Foi
eu quem quis assim, ponto final. Me desfragmentei como peças de um
quebra-cabeça. Me colori meio de preto, meio de branco, porque são cores
simples e que se entrelaçam, fazem uma combinação quase perfeita, são fortes,
são as mais bonitas da aquarela. Preto e branco juntos transpõe-se cinza, que
por sinal, outra bela cor também (...) Uso um vocabulário mudo, visto uma
postura madura, séria, focada, sei lá, qual se encaixa melhor (...) Muitos
indagam sobre meu sorriso, sobre meu semblante de menino. E qual a importância
de um sorriso a esta altura do campeonato? De que vai valer oscilar semblantes?
Ora menino, ora adulto, ora menino, depois adulto de novo. Não! Prefiro ser
apenas um. Friso, escolhas minhas, ações minhas e consequências minhas, de mais
ninguém, portanto, não tem porque demonstrar tanto espanto, só acomode-se ao
meu temperamento aversivo (...) Abri mão de alguns investimentos, porque foram
necessários, muito mais do que por escolha. Não tenho tanta coisa que de fato
eu dê muita importância, com excessão do EGO, que me vale muito, muito mesmo.
‘Tenho’ pessoas que me valem pouco, talvez, um tanto equivalente a um riso
sarcástico (...) Aos poucos fui tecendo o significado de prioridade,
infelizmente não consegui muita coisa, em compensação, ao remodelar o conceito
de opção, descobri o mundo. (...) Quando penso em perder, sofro já
antecipadamente. Contraditório, porque ninguém perde, desfazemo-nos apenas de
objetos, situações e pessoas sem valor. A palavra perder me soa ainda algo
associado a covardia, humilhação. Quanto aos meus sentimentos, não sei se
perdi, se abri mão ou se foram destruídos, remodelados. A parte boa disso tudo
é que não serei uma paisagem transmutável, serei a mesma vista todos os dias, o
mesmo retrato e denotarei sempre o mesmo significado (...) Quando zombaram do
meu conceito de liberdade, me senti perturbado, tanto que quis descobrir mais
sobre como é e o que é ser livre. Mamãe já dizia: sua maior qualidade, seu
maior defeito são um só, aventureiro! E eu fui ser livre. Me desprendi de
tudo: dos patéticos que se assentavam na primeira fileira, do confinamento de
08 horas diárias de trabalho, de paixões eloquentes, de pessoas com pensamentos
medíocres. Vim parar ‘num’ lugar onde as pessoas trocam ensinamentos de
como serem somente delas mesmas. E como articulam bem a linguagem do egoísmo.
Aprendi ser mais frio, um tanto calculista, menos eufórico, menos ingênuo.
Descobri coisas interessantes sobre esperteza, uma delas, passar a imagem de
lerdo ao público. Os melhores ensinamentos mesmo foram embasados em erros, que
não há necessidade de pontuar. Pontuemos sucessos, porque o obscuro é
pertencente somente à gente. Acho fantástico tudo isso, como o inconsciente
reage a estímulos externos e como reagimos frente a tanta bagunça. Enfim, o que
me resta é somente esperança de um dia me perder completamente, porque não há
meio termos e não quero me sentir como um quebra-cabeças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário